O meu Brasil é do Oiapoque ao Chuí

Hoje eu estou com a boca aberta e a fim de tacar fogo no parquinho. 🔥 Bora de incêndio…

Quem assiste BBB tá vendo o tanto de

xenofobia que a Juliette está aguentando. Ela é a “nordestina chata, deselegante e irritante”, na opinião da Carol Conká. E inúmeras vezes chata na boca de outros participantes.

Precisou muita coisa acontecer pra ela conseguir o mínimo respeito na casa e até agora tem gente assim qualificando-a.

As pessoas costumam usar rótulos para enquadrar e controlar as outras pessoas.

Pois bem.

No Sul temos separatistas.

Moro no Sul. Morei no nordeste. E o meu país é inteiro.

Vamos lá.

Morei duas vezes em Curitiba. DUAS. E conheço bem tudo o que rola por lá. Existem Curitibanos maravilhosos e Curitibanos purgantes exatamente como a Carol Conká.

Tânia, se tá ficando louca? Vamos à ilustração.

Pois eu conheci uma mulher, tão sem noção, que afirmou categoricamente, na frente de um nordestino que mora há uns 30 anos em Curitiba…, que todos os pobres de ruas, o prefeito que havia trazido do nordeste, pra dizer que Curitiba tinha pobre.

Ahn?

Isso mesmo que você leu. Eu VI e OUVI isso. Não estou contando história de terceiros. Eu PRESENCIEI. Diante de tais afirmações esdrúxulas, achei que o senhor ficaria bravo, mas ele só disse “oloko, fulana”. Ela, nas suas certezas cegas, dizia “é verdade”, numa total desconsideração por quem estava diante dela.

Sim. Ela sabia que ele era nordestino, sim. Ela nem desconfiada que a sua hipótese da pobreza que estava na rua era no mínimo incabível e inverídica, sem qualquer fundamento com dados ou com a realidade.

O Brasil é miscigenado. Misturado. Todos os povos. Aqueles que têm orgulho de serem descendentes de alemão e de italiano, para estes países devem voltar. Simples assim. Foi parido em terra Brasilis, não é mais europeu. Tá ok?

Eu sempre digo que tenho a mistura do português e da índia e da italiana com o negro. Está tudo DENTRO de mim. Amo tudo isso. A coisa que eu sou.

Eu achei o incrível na Carol Conká a arrogância sulista e a pele negra. Praticamente um paradoxo identitário.

Ao mesmo tempo achei uma oportunidade de muitos curitibanos se enxergarem. E eles sabem que têm fama de antipáticos. Muitos humoristas fazem piadas com isso. Quando trabalhei em Ponta Grossa, ponta grossenses me perguntaram como fui recebida, porque a cidade tem uma fama entre eles mesmos de não acolhimento. Eu nada falei. Era uma turma. O que eu falaria diante de 40 pessoas? Até porque a vida era corrida, fase de pós-graduação, não tinha nem tempo de esperar o social das pessoas. Mas a verdade, é que havia duas marmotas que me perseguiam no trabalho. Os outros me tratavam bem.

Com base nisso, vejo que há uma consciência dos próprios preconceitos… As pessoas percebem que está errado, mas preferem “despejar mesmo assim”.

Quando eu morei no nordeste, fui MUITO bem recebida. As pessoas vinham conversar. Vinham perguntar sobre mim. Em pouco tempo estava super enturmada em todas as cidades que morei. Amo aquelas bandas.

E a maior mentira namastê é: se aparece em meu campo, está em mim… pois Juliette é legal e simpática com todos. A casa (pessoas de outros estados) a vê como fraca. Julgam tanto a personalidade dela que nada mais vêem além do que desejam ver. Juliette cuida de todos. Pinta cabelo, corta, faz maquiagem, dá o ombro e ainda assim não está bom.

Juliette representa o nordeste de braços abertos.

Carol Conka representa a Curitiba que precisa fazer a lição de casa.

Eu tive muito acolhimento em Curitiba. Eu conheci todos os tipos de pessoas. Meu Facebook está cheio de Curitibano. Mas aquela uma, que dizia que os pobres foram trazidos do nordeste e jogados nas ruas de Curitiba, eu deletei faz tempo. Não aguentei.

Este texto é apenas uma reflexão para todos que sonham com um Brasil diferente, para além das divisões geográficas e de nossos sotaques.

O meu Brasil é do Oiapoque ao Chuí. ❤️

Pátria amada, Brasil.

Tânia Braga